Budapeste, Murdoch e o futuro do livro

Sabrina Nobre | Hoje no Cinema

Divulgação

Publicado em 14/02/2011 às 21:57

Muito se fala sobre a relação entre livros digitais e livros de papel. Apesar do crescimento das novas tecnologias, poucos arriscam decretar a morte definitiva do livro como conhecemos hoje. Semana passada, uma notícia esquentou o já acalourado debate sobre o futuro da informação impressa e os novos caminhos dos conteúdos digitais. O responsável foi o australiano Rupert Murdoch, não à toa chamado de o "Magnata da Mídia". Murdoch é dono, apenas, dos jornais The Wall Street Journal, The Times, New York Post, The Sun, da rede de TV Fox, e de mais uma dúzia de empresas de comunicação. Murdoch anunciou o lançamento do The Daily, o primeiro jornal produzido especialmente para iPad. Essa é mais uma tentativa de Murdoch de criar no mundo virtual um modelo de negócio nos moldes do utilizado no mundo real. Leitores pagam assinatura, anunciantes pagam publicidade, e Murdoch aumenta um pouquinho a fortuna de US$ 6,3 bilhões.

 
Mês passado, revi alguns trechos do filme Budapeste, baseado no livro homônimo de Chico Buarque. A história se ramifica a partir de José Costa, sócio e escritor de uma agência de ghost-writers. Em uma das subtramas, Kaspar Krabbe, alemão radicado no Rio de Janeiro, contrata Costa para escrever sua pseudo-auto-biografia romanceada. Para acentuar a personalidade ghost-writer da personagem principal, o filme utiliza o recurso da narracão em off, sempre dizendo trechos do texto original. Numa das passagens mais fascinantes, Krabbe/Costa conta como começou a escrever um livro no corpo de suas amantes: 
 
E foi na batata da perna de Teresa que escrevi as primeiras palavras na língua nativa. […] e o livro já ia pelo sétimo capítulo quando ela me abandonou. Passei a assediar as estudantes, que às vezes me deixavam escrever nas suas blusas, depois na dobra do braço, depois na saia, nas coxas […] e me pediam que escrevesse o livro na cara delas, no pescoço, depois despiam a blusa e me ofereciam os seios, a barriga e as costas […] e o negro das minhas letras reluzia nas suas nádegas rosadas.
 
Pois é, o livro digital pode oferecer muitas vantagens, mas o livro físico ainda permite possibilidades bem interessantes. Murdoch está apostando alto na sua nova empresa de jornalismo digital. Já Krabbe ainda prefere a informação impressa num meio físico, tanto que só conseguiu ativar sua verve criativa através da literatura, digamos, orgânica, provida de cheiro, tato, com palavras distorcidas pelas curvas da margem que se aproxima da lombada que, neste caso, não era de papel. 
 
Só nos resta esperar as cenas dos próximos capítulos desse embate entre as novas mídias e os meios tradicionais.
 
Enquanto isso, o destino do livro impresso segue incerto por linhas curvas…