Não vejo o BBB. O cotidiano das pessoas de lá não me desperta interesse algum. E isso nada tem a ver com um discurso intelectual-cult sobre a mídia-apelativa ou qualquer bobagem desse tipo. É só que, especificamente, aquelas pessoas não me interessam. Há cotidianos que nada têm de cultural e que me interessam bastante. A rotina de treinos de Ronaldinho no Flamengo, por exemplo. Mas, como ainda habito esse planeta, sei que a transexual Ariadna foi eliminada logo de cara. Claro, o objetivo de por um transexual é criar polêmica e, consequentemente, gerar audiência. Iria atiçar o preconceito e a demagogia dentro e fora da casa. Mas o público do BBB é, na maioria, o público da novela. E, sendo assim, nada dessas coisas muito moderninhas. Basta o vilão, o mocinho e a mocinha. O que parecia ser a promessa, virou frustração.
Também foi assim com "A Origem", talvez o filme mais badalado do ano passado. O que prometia ser um novo clássico do cinema se tornou o grande fracasso do Globo de Ouro. Os rumores pré-lançamento davam conta do surgimento do que parecia ser o novo Matrix, algo que misturava efeitos espetaculares com uma trama sensacional. Nada disso. É, apenas, um bom filme de ação com um mote mais interessante do que matar os inimigos pra salvar a mocinha. Vendo o filme, logo de cara, algo me chamou atenção: uma personagem chamada Ariadne, que teve que desenhar labirintos como teste para entrar no grupo. Obviamente, com esse nome e a referência ao labirinto, deduzi que a moça guiaria o mocinho até o desfecho de sua tensão pessoal…
Na mitologia grega, Ariadne (ou Ariadna em algumas línguas) deu a Teseu um novelo para usar como guia no labirinto do Minotauro, o que originou a expressão "Fio de Ariadne". Como escreveu lindamente Jorge Luis Borges:
"O fio que a mão de Ariadne deixou na mão de Teseu (na outra estava a espada) para que este afundasse no labirinto e descobrisse o centro, o homem com cabeça de touro ou, como quer Dante, o touro com cabeça de homem, e lhe desse morte e pudesse, já executada a proeza, destecer as redes de pedra e voltar a ela, a seu amor".
Porém, tanto no filme quanto no BBB, o fio de Ariadne se partiu. No BBB, esperava-se ser Ariadna a linha-guia de uma edição polêmica, inusitada, marcante, acalourada… mas o enredo que se pretendia cheio de nuances promete seguir a linearidade dos folhetins. No filme, a Ariadne que prometia levar o mocinho à resolução de suas questões internas não passou de um nome-clichê desnecessário. Até mesmo porque, verdade seja dita, tudo que o filme não possui é um labirinto.
Fique tranquilo, Teseu. Não existe a menor chance de se perder…
Por: Carlos Batalha